Torre de Moncorvo, 26 de junho de 2041 No dia da Festa, “as crianças mostravam eufóricas os seus presentes”. Todas, exceto uma, que a jovem estagiária assim descreveu: “A aluna postada no fundo da sala, de rosto sério, sem sorriso, expressão neutra, de olhos aguçados

Matosinhos, 25 de junho de 2041 Nos idos de vinte, a Escola agonizava. As práticas dissonantes eram objetos de curiosidade, quando deveriam ser locus de pesquisa, fontes de inspiração. O “insucesso educativo” constituía-se em paradoxo, custava aceitá-lo, quando alimentávamos caros sistemas educacionais. Diminuía o número

Fornelos, 24 de junho de 2041 No périplo português de junho, tive oportunidade de visitar esboços de comunidade de aprendizagem. Na “Terra” da Paula, na herdade da Rita, nas jovens famílias do Alfredo de Montemor, em tantos lugares que já nem sei contar despontava a

Maia, 23 de junho de 2041 Queridos netos, juntarei algumas reflexões à estória ontem contada. Convicto de que tenhais paciência para aturar as memórias do vosso velhíssimo avô, elas aqui vão: “Que argumentos foram expostos pelos irritadiços professores? Nem um! Que debate foi possível? Nenhum!

Condeixa-a-Nova, 22 de junho de 2041 Aceitei o convite de dois amigos professores e fui assistir a uma reunião (que designaram de) “pedagógica”. Aguentei quase uma hora de leitura de regulamentos, mais meia hora de comentários (inenarráveis) sobre alunos. Até que uma professora tomou a

Fão, 21 de junho de 2041 Há uns trinta anos, publiquei um livrinho, que deu a conhecer aos educadores brasileiros alguns pedagogos insignes, para que não continuassem a ser ilustres desconhecidos. À semelhança dos brasileiros, os educadores portugueses desconheciam a obra de vultos como Adolfo

Óbidos, 20 de junho de 2041 “Consenso” é palavra de origem latina, significa “acordo tácito”.  Num estudo realizado no Brasil pela UNESCO, as conclusões eram “consensuais”: os professores consideravam que o fracasso na escola era responsabilidade dos alunos, da “falta de vontade” das crianças e

Évora, 18 de junho de 2041 Numa escola brasileira dos idos de vinte, escutei a repetição da ladainha:  “O Dadá comeu xuxu e o vovô viu a uva”.  Frases a roçar a imbecilidade desanimavam o mais animado dos alunos. Filhas diletas do chamado “método fônico”,

Crato, 19 de junho de 2041 Apresentei o alvará e logo escutei um comentário:  “De um homem é que nós estávamos a precisar!”  De imediato, não compreendi a razão da masculina preferência. Mas logo me foi explicado que seria bem-vindo um pedagogo musculado que pusesse