Talvez devido à minha origem – as chamadas “ciências exatas” – dou por mim a usar metáforas da Física. Por exemplo, o conceito de inércia: perante os trágicos efeitos que produzem, por que razão as escolas e os professores não mudam? Ou o de resiliência: por que razão alguns mudam, apesar dos imensos obstáculos que se lhes deparam? Que estranha energia os anima? Se a maioria cultiva a “resistência à mudança” – conceito caro às ciências da educação – como e porque acontece a mudança de alguns?
Em 1905, o físico Einstein criou uma fórmula: e=mc². Ensaiei a sua adaptação, dado que a Pedagogia vem adotando conceitos da Física. E assim ficou: a energia (e) de alguns é resultante de uma mudança (m) operada por contágio (c) combinado com um determinado contexto (c). A mudança acontece pelo exemplo dos educadores – a sua práxis coerente com os valores dos seus PPP. Acontece quando esse contágio se associa ao contexto, no qual a educação pode e deve acontecer, isto é, a comunidade.
Desde há mais de quarenta anos, assisto a tentativas de reformas e à inevitável falência de reformas que não ousam operar ruturas. Manifesto a perplexidade que levou Einstein a afirmar que insistir no errado é sintoma de loucura. E formulo perguntas consideradas incômodas. O que se aprende dentro de um edifício escolar, que não possa ser aprendido fora dos seus muros? Talvez o bulliiyng… O espaço de aprender é todo o espaço, tanto o universo físico como o virtual, é a vizinhança fraterna.
E quando se aprende? Nas quatro horas diárias de uma escola-motel? Duzentos dias por ano? Que sentido faz uma “idade de corte”, se não existe uma idade para começar a aprender? A todo o momento aprendemos, desde que a aprendizagem seja significativa, integradora, diversificada, ativa, socializadora. O tempo de aprender é o tempo de viver, as vinte e quatro horas de cada dia, nos trezentos e sessenta e cinco dias (ou 366) de cada ano.
Urge rever os conceitos de espaço e tempo de aprendizagem, para que os “paidagogos” não mais conduzam as crianças da comunidade para a escola, mas as libertem da reclusão num gueto escolar e as devolvam à comunidade, na qual a escola constitui um nodo de uma rede de aprendizagem colaborativa.
Enquanto a comunicação social faz eco de discurso de políticos, que nos falam de desenvolvimento sustentável e dos saberes e competências para fazer face a um mundo incerto e em mudança acelerada, os profissionais da educação reproduzem práticas fósseis. Assistimos à perpetuação de uma gestão centralizada do sistema, impedindo que as escolas assumam a dignidade da autonomia e se constituam em elementos orgânicos de comunidades de aprendizagem. Num tempo em que se proclama o reconhecimento das diferenças, o ato pedagógico mantém-se cativo de um fordismo tardio, ainda que se enfeite a sala de aula com novas tecnologias.
Mas tenho motivos para ser esperançoso. De uma escola agonizante, vejo emergir práticas protagonizadas por educadores, que compreenderam que escolas não são edifícios. Congratulo-me com a iniciativa de universidades, que se assumem como “multidiversidades”, (feliz neologismo do meu amigo Augusto) e desenvolvem estudos em torno do conceito de “comunidade de aprendizagem”. Aprendo com educadores, que aprendem com outros educadores, mediatizados pelo mundo, sabendo que não se trata de “levar a comunidade para a escola”, ou de fazer “visitas de estudo à comunidade”, pois ninguém visita a sua própria casa…
Talvez essas práticas anunciem ter chegado o tempo de uma nova construção social-escola.