“O melhor caminho para uma nova educação é o amor”

 

Confira entrevista com o economista Marcos Arruda sobre Economia Solidária e a necessidade de uma nova escola voltada para empoderar cidadãos

Foi para transformar a Economia em arte que Marcos Arruda, exilado nos Estados Unidos após ter sido preso e torturado durante a Ditadura, resolveu cursar o mestrado em Economia do Desenvolvimento na The American University. De lá para cá, o também geólogo e doutor em Educação, apoiou movimentos populares, virou referência em Economia Solidária e trilhou um caminho de luta contra “esse sistema que vai no sentido contrário à evolução da humanidade ”. “Um outro mundo não é utopia, é realidade em nós”, acredita o educador, que esteve no projeto Gaia Escola no último dia 20 falando sobre Economia da Transição e mostrando que o melhor caminho para uma nova educação é o amor.

Nesta entrevista exclusiva Marcos fala sobre o papel da escola na construção desse novo modelo econômico, confira:

Qual é a importância da Economia Solidária para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta?

O primeiro passo é entender o porquê da Economia Solidária. Economia vem do grego, quer dizer “cuidado ou gestão da casa” e ao longo do tempo, a casa passou a ser a única coisa que interessa. O que é mais importante na casa? É quem mora nela. E o que nós fazemos é resgatar o sentido original da Economia e cuidar da casa para quem mora nela esteja cada vez melhor. Essa é a lógica da Economia Solidária. Ela entra com um conceito de solidariedade que representa na origem, “estar solidamente interligados”, reconhece que nós não podemos nos desligar uns dos outros e afirma que o único modo inteligente de nos relacionarmos, inclusive na economia, é cooperando, daí essa visão de uma outra economia, pós-capitalista, que vá além  do sistema atual de disputa e competição, buscando sempre mais lucro e mais controle do mercado. É fundamental esse esforço em uma época que o capitalismo está mostrando que não é sustentável e que seus limites estão chegando ao limite. É aqui que entra uma nova economia.

Quais são os valores da Economia Solidária?

É uma economia que tem como referência as necessidades humanas, a aspiração humana de bem viver e de felicidade. Todos os esforços da sociedade têm que estar voltados  para um desenvolvimento dos potenciais que a humanidade tem, sendo o maior deles o amor, o amor é o único que gera felicidade, não há outro modo de relação que gere felicidade, reconhecendo a diferença e aceitando o outro não como projeção de mim, mas como um ser individual à quem eu devo respeitar tanto quanto quero ser respeitado.

 E qual é o papel da escola na construção desse novo modelo de economia?

A escola também tem tido um papel vicioso, de consolidar um sistema de dominação e de subserviência, ensinar a maioria a se subordinar e uma pequena minoria a liderar. Muitos de nós educadores e educadoras temos trabalhado para um outro objetivo que é ajudar crianças, jovens e adultos a serem cada vez mais sujeitos do seu próprio desenvolvimento. Para isso, eles têm que se empoderar, não somente com conhecimento, mas com autoestima, se valorizar como seres humanos e como cidadãs e cidadãos. Se tornando sujeitos do que hoje eles são objeto, eles passam a ter poder. A educação vem para educar as pessoas para se empoderarem, para serem elas próprias autoras da sua própria história, a educação tem esse papel fundamental, mas só ela se transformando, ela reconhecendo que ela é apenas um meio, não para integrar as pessoas nesse campo da competição e da guerra, mas meio para libertar os potenciais da pessoa e fazer com que cada um maximize tudo aquilo que de melhor que carrega. Ganhar essa consciência, eu posso ser um gestor do meu próprio caminho, desenvolvimento e felicidade.

A escola teria então o papel de empoderar a comunidade para construir uma economia solidária?

Nós temos na economia solidária todo um campo de educação, educação não formal de jovens e adultos. O campo da escola ainda não está incorporado. Nesse momento, a escola precisa de uma mudança profunda, não só das crianças, mas dos educadores. E é isso que a Escola da Ponte, o caminho que o José Pacheco tem levado é tão criativo e inovador. Eu acredito enormemente nesse caminho que centra o aprendizado, não em leitura e nem em ouvir a aula de nenhum professor, mas na pesquisa, em levantar questões e estimular a curiosidade das crianças para irem buscar as respostas

Você acredita que o Gaia Escola é um caminho para essa transição do modelo econômico e da educação?

Sim, acredito, o Gaia Escola é um caminho.

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