Em meio a grandes crises, como a que estamos vivendo, nasce a desesperança. Todos os sonhos se perdem na imensidão da incerteza. A humanidade está sendo desafiada a tomar decisões que definirão a sua permanência na Teia da Vida de Gaia.
Conversando com Bernardo, Maria e Isabela, jovens estudantes na faixa dos seus 16 anos, sinto a responsabilidade de apoiá-los na difícil tarefa de se transformarem em adultos num mundo de tantos desafios. Vejo o brilho do olhar dos três. Potências de vida. Serão eles/elas que trilharão o caminho da transição planetária no momento mais crítico.
Compartilho com eles, a minha percepção de que o nosso cronograma para mudar o cenário apocalíptico está findando.
Bernardo diz: “dá um desespero de ver aquele relógio. Só faltam sete anos!!” referindo-se ao relógio do clima.
Vejo nestes jovens a esperança. A possibilidade da construção de uma nova realidade, dissociada de uma visão de mundo que nos fez chegar até aqui.
Crescemos em número, somos 7,8 bilhões espelhados por um planeta devastado pela ambição. Desconectados da vida. Esquecendo que somos filhos e filhas da mesma terra, viajando pelo infinito do universo.
Sinto a necessidade de aprender com as culturas ancestrais. Sentar aos pés dos mais velhos para ouvir suas histórias. Tal como eu fazia com a minha bisavó aos meus sete anos de idade. Sou o que sou, graças a oportunidade conviver com meus avós.
Os ancestrais são o solo rico de sabedoria. Os jovens as sementes potentes de vida.
O momento pede que tenhamos uma visão ampliada. De perceber que do contato das sementes com o solo fértil, surgem as flores com suas infinitas possibilidades.
A transformação não virá pelo choque, mas sim pelo encontro. Encontro de gerações, de multiplicidades de visões. Multiplicidade de “seres e fazeres”. Pelo movimento não da insatisfatoriedade ou da dor. Mas do sonhar com alegria. Do sentar em roda, dançar, cantar, e co-criar “o sonho que se sonha junto” e que vira realidade. Soluções tecidas a partir de saberes locais, da cooperação e da solidariedade.
Precisamos voltar nossa memória para quando vivíamos em aldeias. Em pequenos grupos. Em círculos em volta do fogo. Precisamos aquecer a semente sagrada que existe em cada um de nós.
Não será a tecnologia que irá nos salvar, mas sim a sabedoria do encontro que potencializa múltiplas primaveras.
Precisamos nos sentir conectados com o todo. Sentir fluir em nós o próprio universo.
Quero encontrar muitos Bernardos, Marias e Isabelas, conectar com os velhos saberes das comunidades tradicionais. Quero ser uma potencializadora de encontros, fazer elos, criar comunidades, tecer redes e, assim aprender a transformar a mim e o mundo.
“Quando mudamos internamente a primavera aparece” (Lama Padma Santem)
Quero voltar a ter esperança na humanidade e de que dias melhores virão. Tenho sete anos para isso. Espero que eu consiga.
Por: Cláudia Passos