“André, você acha possível uma escola diferente desse modelo que existe hoje? Você realmente acredita nisso?”
Eu já ouvi essa pergunta várias vezes e a maioria delas partiu da boca de professores. Vou explicar a falta de sentido nessa pergunta.
Imagine uma pessoa perguntando para Leonardo da Vinci, em 1500:
– Leonardo, você acredita que um dia os seres humanos poderão voar em veículos voadores?
Como Leonardo não viu um avião, ele responderia baseado apenas no que ele acredita ser possível. Ele não teria certeza. Seria apenas uma opinião pessoal com maior ou menor embasamento científico. Ele poderia acreditar que seja possível, assim como poderia acreditar ser impossível.
Imagine se perguntássemos para Nietzche, em 1900, sobre a possibilidade de os seres humanos pisarem na lua ou lançarem um robô até Marte. Mais uma vez, sem ter visto o avanço tecnológico do século XX, Nietzche não teria como responder esta pergunta com precisão. Seria apenas uma opinião dele.
Quando me perguntam se eu ACREDITO que seja possível existir um modelo de escola diferente deste que existe, me parece que as pessoas partem do princípio que ninguém nunca viu um modelo diferente de escola no mundo.
Mas como isso é possível? Vivemos na era da comunicação digital. Para ver uma escola diferente nem mesmo precisamos sair de casa. É possível ver isso através do Youtube. Não se trata de um mistério da humanidade. Já existem escolas sem prova, sem aula, sem turma, sem horário coletivo, sem agrupamento por faixa etária e até sem paredes ou muros. Não é uma crença minha. Não é uma utopia. É um fato! Eu nem preciso me esforçar para acreditar nisso, pois é real, tal qual a força da gravidade.
“Mas eu não estou falando de escolas fora do Brasil. Quero saber se você acredita que possa existir uma escola diferente dentro do Brasil mesmo.”
Geralmente essa é a pergunta que sucede a anterior. As pessoas realmente acreditam que desde 1900 nenhuma pessoa no Brasil cogitou fazer algo diferente até hoje. Elas acreditam que o modelo escolar é como um beco sem saída. A percepção que elas possuem sobre o potencial criativo, crítico e científico do Brasil é tão baixo, que elas duvidam naturalmente que algo assim tenha ocorrido aqui no nosso país.
Professores passam 4 anos na universidade e se prepararam para uma guerra na sala de aula sem ao menos cogitarem a possibilidade de que essa guerra nem deveria existir. Depois de passarem 18 anos na escola como alunos, eles se capacitam para repetir o modelo escolar com seus futuros alunos, como se esse modelo estivesse alcançando ótimos resultados.
Por quê? Se tantos professores desistem dessa profissão por desgaste emocional, se tantos professores são desrespeitados por alunos, se 30% dos alunos brasileiros desiste de concluir o Ensino Médio, se o índice de analfabetismo no Brasil é absurdo, se 38% dos universitários são analfabetos no Brasil, se o índice de depressão, suicídios e automutilações entre jovens e crianças tem crescido a cada ano, se o percentual de alunos que desiste do curso superior é de 50%, mesmo depois de terem se esforçado para passar no vestibular, enfim, se temos tantos indícios que provam que o modelo escolar não funciona, por que os professores continuam a repetir este modelo?
Será ético isso?
Será racional?
O óbvio não seria parar de seguir um caminho e escolher outro melhor?
Por que os professores tem medo de mudar?
Por que os professores não conhecem outros modelos de escola?
Por que não querem conhecer?
Peço perdão pelo excesso de perguntas. Pode parecer cansativo, mas eu juro que faço essas perguntas na sala dos professores de todas as escolas onde trabalhei há 10 anos e o silêncio tem sido a resposta comum. Uma outra resposta que ouço é:
– Mas é complicado, André…
O que estamos fazendo hoje por acaso é simples? Professores e alunos estão morrendo por stress! Não há uma única resposta ética para esses meus questionamentos. Existe apenas a desculpa de não querer assumir uma postura ética perante a profissão de educador. Mudar o modelo vai exigir estudo, coragem, trabalho, acompanhamento dos alunos, relação direta com as famílias, paciência, respeito mútuo, escuta, empatia, conhecimento das leis… Pode ser que esses sejam os motivos que afastam muitos professores da busca por uma educação verdadeiramente ética.
Quando percebem que os 4 anos de licenciatura cursados na universidade não os prepararam para alunos do século XXI, alguns professores ficam aflitos e isso os motiva a buscarem um novo caminho, mas outros apenas desistem e passam a viver “no automático” dia após dia.
Experimente perguntar a um professor por que ele continua a trabalhar do mesmo jeito que se trabalhava no século XIX. Ele vai te responder:
– Não sei. Só sei que sempre foi assim…
Sejamos firmes e lutemos por uma educação que nem sempre foi assim. O mundo precisa de uma nova sociedade e a sociedade precisa de escolas melhores.
Por: André Luis Corrêa