Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCLXXI)

Santa Catarina da Serra, 6 de outubro de 2041

Queridos netos, continuarei narrando uma saga pedagógica da segunda metade do século XX, se para vós isso não constituir aborrecimento. 

Em finais da década de setenta, fui eleito coordenador de um projeto de “Animação Pedagógica”. No dealbar dos anos oitenta, o exito desse programa suscitou o lançamento de outro, a que chamaram “Coordenação Pedagógica”. De novo convocado, liderei uma equipe de excelentes profissionais que, para além do cumprimento da sua atividade letiva e sem qualquer remuneração suplementar, apoiaram projetos iniciados na anterior “Animação”. 

No advento do regime democrático, esses projetos e programas pioneiros estiveram na origem de significativas transformações. Até ao final do século, seriam objeto de desvirtuamento e “imitações”, tendo “morrido sem honra nem glória”, por não terem sido avaliados.

A partir de 1984, no período de adesão de Portugal à Comunidade Econômica Europeia (mais tarde, “União Europeia) apresentei em várias capitais a “joia da coroa” do ministério: a Escola da Ponte. Foi grande a surpresa. Diria mesmo perplexidade. Logo no primeiro congresso, quando eu esperava que países como o Reino Unido, a Alemanha, ou a França, apresentassem projetos inovadores, assisti a exposições maçadoras, à divulgação de práticas que, anos antes, a Ponte abandonara.  

Como corolário das minhas apresentações, a nossa escola começou a ser invadida por pesquisadores. A Ponte foi locus de estudos e doutoramentos estrangeiros, enquanto era depreciada e ostracizada no seu país. 

Em 1987, fui eleito coordenador concelhio do PIPSE (Programa Internacional de Promoção do Sistema Educativo). Trabalhei com técnicos de diversas áreas: Saúde Escolar, Assistência Social, Cultura, Desporto… As ações prioritárias incidiram sobre a prestação dos cuidados de saúde, o fortalecimento da educação especial, o apoio a famílias carenciadas e a formação de professores.

Sem qualquer remuneração ou subsídio de função, coordenei uma extraordinária equipe. Trabalhamos no chão das escolas, apoiamos centenas de projetos. 

Em 1991, esse programa foi extinto. Trinta anos decorridos, o ministério da educação lançou o edital do PNPSE, recorrendo à retórica habitual: 

“Exige-se uma ação integrada da escola com os demais atores sociais, com impacto educativo na comunidade”. 

Nada disso aconteceria. O PIPSE transformou a sala de aula, produzindo inovação, a réplica PNPSE pretendeu dar “combate ao insucesso escolar… na sala de aula”. Apenas mudara uma letra: o I de Interministerial era substituído por um N de nacional. Em mais de três décadas, vários programas foram lançados. E todos com o mesmo efeito: o N de…nenhum! 

O ministério parecia não aprender com os insucessos, insistia em “reinventar a roda” da educação. Nos idos de vinte, a política educacional caracterizava-se pelo improviso, por uma perspectiva reducionista de mudança, pois ainda havia quem pensasse ser possível “inovar em sala de aula”. 

Seria necessário que o ministério escutasse a voz do bom-senso e deixasse de acreditar em mercadores de modismos, em universitários teoricistas e pseudo-vanguardas pedagógicas. Urgia conceber um projeto de educação, que dialogasse com o projeto de país e tornar os estudantes capazes de construir projetos de vida, de vida cidadã. Urgia repensar a formação dos profissionais da educação, para que pudessem reelaborar o seu projeto de vida, no diálogo com outros agentes educativos.

Na década de vinte, tudo se concretizaria. Vos contarei como aconteceu.

 

Por: José Pacheco

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