Rio Grande da Serra, 7 de agosto de 2041
No final da segunda década deste nosso século, uma rede de projetos discretamente se prefigurava, esboçando novas construções sociais de aprendizagem, à semelhança de uma Finlândia, que optava o abandono do tradicional ensino por disciplinas.
No novo modelo, que seria aplicado nesse país, por volta de 2020, todos os assuntos estariam interligados. Entretanto, outro ministério da educação, o da França, lançou uma reforma assente em três pilares: flexibilidade, autonomia e interdisciplinaridade. Essa reforma sustentava que as escolas deveriam “alterar a sua forma de ensinar, dando mais importância aos trabalhos de projeto, aos trabalhos de grupo e proporcionando aos alunos oportunidades de procurar relacionar a sua aprendizagem com aspetos práticos do quotidiano, tornando as suas aprendizagens úteis, coerentes e significativas”. O ministério classificava a sua reforma como uma “refundação da escola”.
Outra grata surpresa veio da Catalunha. Os colégios jesuítas dispensaram aulas e testes, eliminaram cursos, exames e horários. Derrubararm as paredes de suas salas de aula e criaram grandes espaços de trabalho em equipe, onde se adquiria conhecimentos através de projetos, com “acesso a novas tecnologias”. Um alto responsável jesuíta afirmou:
“Em vez de olhar para o diário oficial, olhamos para o rosto das crianças e ajudámo-los a desenvolver os seus projetos de vida, para descobrirem os seus talentos. Juntamente com a família e a internet, procuramos construir pessoas”.
O modelo educacional jesuítico reproduziu por séculos um ensino fomentado pela cátedra universitária e replicada pelo mestre escola. Mas, até mesmo os jesuítas o aboliam, assumindo que “o trabalho escolar precisa de outras ferramentas, outras relações, outras dinâmicas”.
É o Colégio Jesuíta João XXIII, da Catalunha, quem o diz. E outras vozes se indignam, como a do meu amigo António:
“Não podemos deixar a escola bloqueada por uma pedagogia medíocre. Quando se fala em diminuição do currículo, isso não pode ser sinônimo da velha ideologia do “back to basics”, isto é, de dar só matemática e português. Trata-se de conseguir que, em cada uma das matérias, se valorize a dimensão das linguagens e não a dimensão dos conteúdos. Isto é, que nós tenhamos os instrumentos para ascender ao conhecimento. Aprender não é ter uma hora de aula de matemática, mas sermos capazes de incorporar nessa aula a dimensão da educação integral”.
Como vos disse, as escolas jesuítas da Catalunha apostaram na renovação do modelo pedagógico, para se adaptar a novos tempos. Tomaram consciência da defasagem do sistema educacional perante a complexidade dos fenômenos societais e de novas necessidades sociais. Também intuiram que não seria suficiente adaptar, suprir deficiências com paliativos. E transformaram as suas escolas.
O projeto Horizonte 2020 ajudou a criar equipes, a diversificar e flexibilizar espaços, estimulou a participação das famílias; levou a uma gestão flexível do tempo, integrou valores. Ao invés de estudar por matérias, os alunos passaram a trabalhar por projetos coletivos, com apoio de tutores. Sem tempo estabelecido para o “recreio”, os estudantes decidiam quando parar, fazer pausas. E os “deveres de casa” foram trocados por processos de pesquisa.
Nas escolas, que visitei em Mogi das Cruzes, algo semelhante se esboçava. Amanhã, vos falarei de intensas emoções colhidas em espaços de fraterno acolhimento. Os professores de Mogi me fizeram retomar o chão da escola, quando já ia nos setenta.
Por: José Pacheco