À memória de Maria Ester Fortuna
Lamento dar, mais uma vez, más notícias.
A Maria Ester faleceu. Professora experiente, amorosa, como todo o mundo que vira professor. Mais de vinte anos, de escola em escola, até chegar à Ponte. Enquanto eu, a Maria José e a Maria Luísa dávamos os primeiros passos dos mais de quarenta anos de um projeto, a Maria Ester, a Maria das Dores e outras professoras “esperavam para ver”. Até que a amorosidade venceu a dúvida e ambas aderiram a um sonho, que virou realidade. Nos últimos anos de vida profissional, a Ester pôs em prática os valores do seu
catolicismo, trocou a solidão da sala de aula pelo trabalho em equipe. E já éramos cinco.
O projeto Fazer a Ponte é obra de muitos professores, que despertaram para a necessidade de assumir um compromisso ético com a educação. A Ester amou a infância, foi merecedora da nossa gratidão. Paz à sua alma!
A última semana de agosto trouxe outra má notícia. Os jornais informaram que “o Brasil está perdido há duas décadas no ensino médio e o caminho segue incerto”. O ministro da educação, amargamente, admite que ”o ensino médio está no fundo do poço”, ao comentar os números do Saeb: no 3º ano do ensino médio, só 4% dos alunos sabem o que deveriam saber no domínio da matemática. E o índice de proficiência em língua portuguesa vai pelo mesmo caminho.
O ministro enfatiza a urgência de uma reviravolta no ensino médio em vigor. Porque o ensino médio não é atrativo a um número considerável de jovens, que acabam abandonando os estudos, não veem sentido no que estão aprendendo.
Temos uma fórmula velha, que se pretende inclusiva, mas que, na verdade, é uma grande produtora de desigualdades. O ministro também afirma que o Enem precisa e vai mudar. E que o aluno progride pouco ao longo do percurso escolar. Os professores do Ensino Superior queixam-se dos baixos índices de proficiência dos alunos do ensino “inferior”. O “preparo” do Ensino Médio é condicionado pelo Enem. O Ensino Médio projeta a culpa no Fundamental. O Fundamental atira culpas para a Educação Infantil e esta responsabiliza as famílias, não podendo as famílias responsabilizar o Criador.
O MEC vai empurrando a crise com a barriga. Os governantes alternam notícias de insucessos com medidas de política educacional anacrônicas. Tardam em assumir um compromisso ético com a educação. E, entre o silêncio cúmplice dos áulicos e o silêncio puro dos inocentes, se vai consumando o holocausto educacional de mais uma geração.
Quando um professor me pergunta como poderá ensinar um aluno a construir portfólios de avaliação, por exemplo, eu respondo:
Dando aula.
Perante a réplica do professor – Mas, eu poderei continuar a dar aula? – acrescento:
Se és competente a “dar aula”, é isso que terás de continuar a fazer, valorizar o que te faz sentir seguro e disponível para mudar.
E a mudança acontece. Porém, nesta derradeira e desafortunada semana de agosto, deparei-me com mais um professáurio:
Eu já cá ando há muito tempo. Dou boas aulas. E quem não aprende vai para as aulas de reforço! Então, se bem entendi, do modo como o colega trabalha, nem todos aprendem…
Claro que não! Nem todos podem aprender!
E você vai continuar a trabalhar desse modo?
Quem é você, para me dar lições de ética? – retorquiu, visivelmente agastado.
Nem precisei de lhe explicar…
Por José Pacheco