Palhais, 15 de setembro de 2041
Agostinho acreditava sermos capazes de reencontrar o que em nós é extraordinário, para transformar o mundo. E agiu em coerência com as suas convicções. Traduziu para a língua brasileira a obra dos escolanovistas e ousou a ruptura com o instrucionismo, gesto poético de quem aprendeu a arte de colocar o sonho em ato.
Debaixo de uma mangueira próxima da faculdade de Pedagogia da Universidade de Brasília, ele escrevia poemas, que distribuía por alunos, professores e candangos. E, quando propôs que se trocasse o lema “ordem e progresso” por “liberdade e desenvolvimento”, sofreu as consequências da sua civil desobediência e da coerência com o seu credo:
“A vida certa do mundo inteiro seria que cada um pudesse viver a sua vida e cada um dos outros pudesse ter esse espetáculo extraordinário de ver pessoas diferentes à sua volta e não, como tantas vezes acontece, sobretudo em pessoas que gostam de mandar nos países, achar que deve ser tudo igual, e quando aparece alguém diferente se ofendem, acham que está fugindo das regras, saindo da vida que deve ter”.
Agostinho era um viabilizador de utopias, Era um “romântico conspirador”. Tal como o Mauro e a Valéria.
No setembro de 2021, com outros RC, esse maravilhoso casal preparava mais um ENARC (Encontro Naciobal de Românticos Conspiradores).
Com a Janaína, a Fabi e o “Coletivo ENARC” que, desde 2004, havia reunido extraordinários educadores, organizavam novo encontro. A pandemia impunha o recurso ao virtual. Mas, sem prescindir do uso da máscara e de outros cuidados, o abraço fraterno seria dado presencialmente, na Tijuca, no Rio de Janeiro.
O lugar de encontro – a Escola Oga Mitá – era exemplo de escola pública de iniciativa particular, era uma prática comunitária. E tudo era realizado na base do voluntariado. Quando sugeri a um potencial apoiador que se inteirasse do evento, essa pessoa me disse ter procurado na Internet e encontrado um “ENARC” financiado por universidades e benfeitores: o “ENARC 2021: Encontro Nacional de Aproveitamento de Resíduos na Construção”.
O movimento “LIXO ZERO” estimulava cidades a ter um maior aproveitamento e uma melhor destinação dos resíduos sólidos, bem como, a reduzir o descarte destes materiais em aterros sanitários e lixões. Era uma meta ética e econômica, que orientava pessoas a mudar seus modos de vida e práticas, de forma a incentivar os ciclos naturais sustentáveis.
Entre palestras, painéis e workshops, aconteceria a Semana Lixo Zero, em Porto Alegre. A meritória iniciativa do sul contaria com técnicos de reconhecida competência, que buscavam soluções a jusante do sistema educacional. No chão da escola, aconteceria o ENARC do Rio. Contaria com os testemunhos de educadores, cujas ações desenvolvias a montante dispensariam iniciativas como a do Lixo Zero.
A escola instrucionista, que nem sequer ensinara a lavar as mãos, permanecia alheia à crise de degradação ambiental. Sobrevivia de paliativos, mais ou menos, pedagógicos. E justificava a criação de institutos, a publicação de estudos, a elaboração de teses. As escolas dos Românticos Conspiradores não eram convidadas para eventos remediativos. Discretamente, faziam a “sua parte”. À margem da comunicação social, no chão de novas construções sociais de aprendizagem e de educação educadores éticos praticavam educação ambiental preventiva.
Acrescente-se que a inscrição na sétima edição do ENARC do Lixo Zero (apoiada e financiada) custava 240 reais. A participação no ENARC das escolas (sem beneficiar de apoios, ou financiamento) era gratuita.
Por: José Pacheco