Escola na Rua transforma praça e relações em comunidade em sua segunda edição

Na segunda edição do evento, realizada no último final de semana, em São Sebastião, mutirão deixa como legado parquinho que será espaço de aprendizagem

Unir, aprender e transformar. Com essa missão, cerca de cem pessoas se reuniram nos dias 14 e 15 de maio, em São Sebastião, para transformar a praça da 103 e refletir sobre a educação na comunidade durante o “Escola na Rua (EnaRua) ”.  Chapéu na cabeça, roçadeira, canetinhas, cartazes e rastelo em mãos e muita disposição para a mudança. Assim começou o evento, na manhã do dia 14, dedicada a preparar o espaço para receber as atividades do final de semana: hip-hop, humanismo na educação, rap na praça, diálogos “Escolas em São Sebastião”, a história do bairro, documentário, permacultura, dança, plantio de mudas e apresentação musical.

Mas o trabalho começou bem antes do dia 14, quando os professores e educandos do Centro de Ensino Miguel Arcanjo e São Francisco (Chicão) planejaram e prepararam os materiais para os dois dias de evento. “O Escola na Rua teve o envolvimento de estudantes, professores, foi construído dentro da escola. Agora conseguimos o público e envolvimento necessários para fazer a rua entrar na escola e a escola acontecer na rua”, explica Luna Lambert, professora do Miguel Arcanjo e uma das idealizadoras do movimento.

“O Escola na Rua ajuda a gente a repensar o que fazemos e praticamos, promove a união”, sintetizou Luzia Oliveira, 15 anos, uma das educandas presentes no evento. E a união foi a essência desses dois dias de trabalho intenso. O que começou com a capinagem no primeiro dia, terminou em parquinho no segundo, erguido a muitas mãos em um mutirão bem diverso. “É algo novo os professores saírem para a rua, sempre achei que as coisas estavam divididas, escola por um lado, sociedade e família em outro. Hoje temos a oportunidade de reunir esses três elementos”, explicou Javier Calderón, um argentino que vive em São Sebastião há 16 anos e é uma das lideranças do EnaRua.

O parquinho ficou como um legado do evento, para ser utilizado como espaço de aprendizagem e convívio da comunidade. “Na ideia de que escolas são pessoas e as pessoas podem estar em qualquer espaço”, destaca Luna. A construção, permeada de discussões e reflexões sobre os resíduos, o meio ambiente e o futuro que queremos para o nosso planeta, desconstruiu o que é pregado pela educação obsoleta que vemos em nossas escolas. “Aprendo muito mais aqui, na prática, do que em sala de aula”, resumiu Dandara Oliveira, 12 anos, estudante do Miguel Arcanjo.

O Escola na Rua ainda deve ficar cerca de três meses na praça da 103, em fase de finalização do parquinho e realização de rodas de conversa no espaço. O próximo passo agora é fazer o Rua na Escola, começando pelo Chicão, que já tem transformado a prática escolar com o projeto “Self Pedagógico*. A proposta é começar a levar os membros da comunidade para atuarem como educadores dando oficinas no “self-escola na rua” e depois ampliar para o Miguel Arcanjo e outras escolas. “Essa é a construção da escola que eu sempre imaginei. Tá fazendo o Escola na Rua é a possibilidade de fazer diferente, mudar a forma”, compartilhou Paulo Henrique Vieira, professor do Chicão.

“É a escola se reiventando, a escola está ultrapassada, precisa se transformar para que o aluno passe a gostar de frequentá-la e não vá por obrigação ou para passar no vestibular”, conclui Gislei Silva, mãe de uma aluna do Miguel Arcanjo.

*O self-pedagógico é um espaço de 1h30, duas vezes por semana, abrangendo os 900 alunos da escola, onde os alunos escolhem o que vão aprender. O projeto é apoiado pelo educador José Pacheco e tem planos de ser ampliado para metade da aula, todos os dias.

Sobre o Escola na Rua

O EnaRua é resultado da união de professores das escolas Miguel Arcanjo e São Francisco, ambas em São Sebastião, e lideranças comunitárias, com o objetivo de promover eventos culturais em locais públicos que integrem a comunidade ao processo de ensino-aprendizagem. O Escola na Rua faz parte de um dos Núcleos de Mudança do Gaia Escola, o Miguel Arcanjo, e conta com o apoio do Núcleo Circo Inventado. Os Núcleos visam transformar a prática pedagógica das escolas, são embriões de comunidades de aprendizagem que se organizaram em espaços onde os educadores já tinham projetos de transformação em andamento, 10 em escolas públicas e cinco em projetos comunitários.  O Escola na Rua, enquanto núcleo do Gaia Escola, busca trabalhar a educação para transformar e humanizar as escolas de São Sebastião.

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