Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CXLII)

Alcanena, 26 de junho de 2040

Antes de vos falar do Manifesto da Mãe Carolina, quero que saibais que, no decurso do século XX, o Brasil conheceu dois manifestos da educação: o primeiro, de 1932, sufocado pela ditadura Vargas; outro, de 1959, que esteve na origem das “Escolas Experimentais” e dos “Colégios Vocacionais”. Se tiverdes interesse em conhecer essas duas extraordinárias iniciativas, talvez as encontreis no que resta do velho Google.

Já neste século, o Manifesto lançado na primeira CONANE hibernou até chegar 2020 e o tempo da pandemia. Um simples vírus bastou para que o sistema de ensinagem entrasse em crise e o teor do Terceiro Manifesto se materializasse num FAZER tardio, mas a tempo…

Vinte e quatro anos decorridos sobre a publicação de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, a escola da aula engendrara milhões de analfabetos e “evadidos”. O desperdício de recursos atestava a ineficácia do sistema de ensinagem e perpetuava desigualdade.

O Brasil dispunha de produção científica, de educadores e de práticas que provavam a possibilidade de uma escola que a todos acolhesse e a cada qual desse condições de realização pessoal e social. Não surpreendeu, pois, que, paralelamente à hecatombe escolar cometida por secretarias e ministérios, comunidades de aprendizagem emergissem do caos como espaços de humanização. Se o poder público não cumpria a lei, o manifesto “Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País” se assumia como instrumento de debate e de efetiva mudança.

A minha amiga Ely, com quem rascunhei a proposta de Manifesto, dizia que “o seu papel foi o de fomentar o diálogo, reunir os contributos e sintetizar a fala e os escritos das pessoas, que se dispuseram a refletir, discutir e expor suas vivências, críticas, crenças, esperanças”.

Desejava que o documento fosse “a base para a construção de um carinhoso e macio ninho”, que abrigasse e fortalecesse a enfraquecida educação brasileira, desenvolvendo uma cultura de Paz. E concluía:

A você, que ama a educação e concorda que é possível fazer uma educação diferente da que aí está, fazemos um convite: Arregace as mangas e venha desdobrar o Manifesto pela Educação em ações concretas, que beneficiem nossos estudantes, suas famílias e a sociedade brasileira”.

A gênese desse documento – elaborado entre 2010 e 2013 – foi intensamente participada, em particular pelos “Românticos Conspiradores”. Centenas de colaborações foram recebidas pela coordenação do projeto, desde o Google docs às redes sociais, do e-mail aos fóruns de debates na internet e a reuniões presenciais. Nesse documento, se denunciava e anunciava. Denunciava-se, lembrando algumas estatísticas e realidades encobertas por um tenebroso “sistema” educacional. Anunciava-se, dando visibilidade social a práticas “eficazes e eficientes”, desenvolvidas em mais de uma centena de espaços educacionais brasileiros.

Há precisamente vinte anos, o terceiro manifesto da educação brasileira – “Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País” – foi melhorado pela proposta da Carolina e de outros educadores, que puseram em ato as nobres intenções desse documento. Se os manifestos de 1932 e de 1959 se mantiveram em estado de hibernação, os núcleos de projeto libertaram o terceiro manifesto do seu letárgico estado e foram protagonistas de processos de mudança e inovação.

Em próximas cartas, se quiserdes, disso vos falarei.

Com Amor, o vosso avô José.

Por: José Pacheco

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