Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCX)

Mogi das Cruzes, 3 de agosto de 2041

Escrevo estas linhas onde a génese de uma nova educação aconteceu, cumprindo a profecia do Mestre Agostinho. Um artigo seu, publicado ainda no tempo em que foi professor da Universidade de Brasília, rezava assim:

Portugal desembarcou na África, na Ásia e na América; só falta a Portugal desembarcar em… Portugal”

Foram proféticas as suas palavras. Depois de me ter emancipado de um soberbo etnocentrismo europeu, me apercebi de que esse “desembarque” iria acontecer através de uma nova educação, que estava a nascer no hemisfério sul. E lamentava que os educadores brasileiros continuassem padecendo da “síndrome do vira lata”, indo procurar no hemisfério norte modismos pedagógicos e os adotassem, quando dispunham, aqui, de uma “finlândia” ignorada. 

Numa viagem ao Norte, havia exposto essa intenção a europeus e norte-americanos. Etnocêntricamente convencidos de que era no Norte que morava a novidade, desdenharam. Estava nascendo na América do Sul uma Nova Educação, aquela que muitos visionários tinham anunciado, desde há mais de um século. Acompanhei uma evolução silenciosa, que já não poderia ser silenciada. Convertido ao sul, buscava fazer a minha parte num projeto iniciado pelo meu amigo André, em Mogi das Cruzes.

A partir de 2021, para além de satisfazer a curiosidade dos professores brasileiros e o interesse manifestado pela academia, visitei municípios brasileiros, realizando “palestras” (eram mais oportunidades de diálogo), formações e transformações, desfrutando da oportunidade de adentrar a espantosa obra do Agostinho da Silva em terras do Sul. 

Esse saudoso Mestre foi ícone de passagem para Lauro Lima, Anísio Teixeira, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro e muitos outros ilustres educadores brasileiros. À semelhança de Freire, esses e outros mestres me mostraram caminhos de transição para um terceiro paradigma – o da comunicação. Com eles, aprendi que aprendemos uns com os outros, mediatizados pelo mundo, que a aprendizagem não está centrada no professor, nem no aluno, e que aprendemos na intersubjetividade. 

Decorridos mais de quarenta anos sobre o início de um projeto, que colocou Portugal no mapa-múndi da boa educação, voltei a esperançar. Reaprendi que escolas são pessoas e não edifícios. Confirmei que as pessoas são os seus valores e que esses valores seriam transformados em princípios, dando lugar a projetos de uma nova construção social de aprendizagem e de educação.

O meu amigo André me levou a conhecer o que de bom já se fazia num dos maiores municípios do meu país de adoção. Num agosto dos idos de vinte, antes de rumar a Portugal em mais uma fraterna viagem, participei num encontro de anúncio e de convite, ao lado do André e da Priscila. E, durante cerca de três anos, ajudei devotados trabalhadores da educação a colocar alicerces no sonho de um Caio prefeito. 

Nos anos seguintes, Mogi viria a ser um locus de inovação e até mesmo de formação e polo de turismo educacional. No exercício de uma exigente coerência praxeológica, os professores mogienses não confundiam mudança educacional com a adição de contraturnos de “atividades complementares, além das aulas regulares”. No início do projeto, respeitando a atitude conservadora daqueles professores que não queriam mudar, valendo-se da intuição e da amorosidade, não fazendo das crianças cobaias de laboratório, os professores de Mogi deram forma concreta às palavras do Mestre Lauro:

“Tudo está fluindo, o homem está em permanente reconstrução, por isso é livre: Liberdade é direito de transformar-se”.

Por: José Pacheco

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