Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCXXVIII)

Jacareí, 22 de agosto de 2041

Poderá parecer-vos exagerada e “radiografia”, mas vos asseguro que a conjuntura educacional de há vinte anos era dramática. E, no que concerne à relação escola-comunidade (naquele tempo, a escola não se sentia pertença da comunidade) muitos equívocos encontrei.

O conceito de comunidade era ambíguo, assim como a capacidade de a escola estabelecer ações efetivas no seu contexto. A relação com a comunidade, no que tangia à participação da escola na transformação social e no desenvolvimento local, mostrava-se precária, ou inexistente. A participação dos pais dos alunos acontecia, quase exclusivamente, em escassas reuniões formais. E era evidente a escassa participação da família no processo de gestão.

Mais grave era a frequente situação de impedimento da entrada de pais na escola. Havia algo chamado “portaria”.

Vede de que modo os professores concebiam a relação com a comunidade. Assim se manifestavam os professores:

“A nossa percepção é a de que existem duas comunidades. Uma voltada para a família e outra para a comunidade local. Identificamos como problema a falta de participação e de responsabilidade das famílias. A escola precisa trazer os pais para participar da vida escolar e eles precisam se sentir mais responsáveis pela educação dos filhos e não, simplesmente, delegar a responsabilidade à escola”.

“Algumas soluções: provocar os pais a partir dos estudantes; criar atrativos para a família e para escola, por ex.: fazer bazar, feira de trocas, reuniões com lanche; conhecer os responsáveis, entrevistar os pais, no início ano, para identificar a profissão e as habilidades que aquela família tem, e poder encaixar isto no dia a dia da escola. Encontrar as habilidades e potenciais das famílias e fazer com que isto faça parte da escola. Sentir-se útil muda a visão do filho, dos colegas e do próprio pai, que é valorizado pelo seu trabalho.

“Usar a escola como veículo de divulgação dos potenciais serviços que podem ser a prestados pela família. Fazer uma ligação das habilidades da família com as demandas da comunidade. Aumentar o papel social da escola. A escola deve criar espaços de escuta e fala.”

“O que o pai quer que a escola seja para o seu filho? A escola deve ter um espaço de escuta maior, para ouvir e colocar em prática o que a família traz como informação e que ajude a escola no seu papel social.”

“Interação e aceitação da comunidade para com a escola. Incluir a comunidade no compartilhamento, tanto no que há de bom, quanto nos problemas da escola. O que acontece na escola tem impacto na comunidade e vice e versa.”

“Buscar parcerias locais para as atividades da escola, para fortalecer a relação com comunidade.”

“Sair da zona de conforto e levar a sala de aula para fora da escola, usando a comunidade para isso. Diminuir o muro da escola. Convidar a comunidade para atividades lúdicas. Escola como espaço comunitário aberto. Disponibilizar atividades para a comunidade é uma maneira de aproximar a comunidade local da escola.

“Conscientização da comunidade como corresponsável pela educação das crianças da escola. Não é responsabilidade só da escola, ou só do professor.”

O velho Comenius ressuscitava, com o Illich à espreita. A escola tentava levar a comunidade para dentro dela, escolarizando a sociedade. A família via a escola

como um redil dos seus filhos e nela depositava os corpos e o futuros dos infantes.

Duas décadas atrás, em Jacareí, surgia um foco de mudança de mentalidades. A Lidiane operava um re-ligare essencial. Em breve, vos falarei do que essa extraordinária educadora foi capaz.

 

Por: José Pacheco

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