Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DXCV)

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Cachoeira dos Pretos, 19 de julho de 2041

Nos idos de vinte, um ambientalista de onze anos de idade de nome Francisco recebia ameaças de morte, só porque reivindicava uma melhor educação. Em regimes autoritários, ou “mais ou menos democráticos” da América do Sul, eram frequentes as ameaças feitas a quem defrontasse pequenos tiranos na versão adulta. 

Participei em muitos atos de desagravo e de proteção dos sem medo, que rompiam coniventes silêncios. Um desses maravilhosos seres humanos era pequeno em estatura física, mas era enorme a sua estatura moral e a sensibilidade perante graves problemas, que afetavam a sociedade desse tempo. 

As pessoas de bem interpretaram a demanda do Francisco como mera defesa do meio ambiente, de uma melhor educação ambiental. Contudo, a fala desse jovem espelhava consciência de que toda a educação deveria ser ambiental, ou não seria educação.

Decorria o cinzento tempo da pandemia da Covid-19 e o colombiano Francisco Vera era reconhecido pela ONU por seu ativismo, e, no seu país, pelas suas campanhas ambientais e pela defesa dos direitos das crianças. Após publicar um vídeo, pedindo ao governo que melhorasse a conectividade à internet para crianças que estudavam online, recebeu uma ameaça de morte numa conta anônima do Twitter. 

A ONU entregou pessoalmente uma carta a Francisco, parabenizando-o por seu trabalho pioneiro no país sul-americano, onde não era incomum a morte de ativistas ambientais. Talvez ainda possais encontrar registro de falas do Francisco na velha Internet. Aqui vos deixo o endereço de um dos vídeos feitos em 2021: https://www.youtube.com/watch?v=yAaRvfofTjs

No movimento de solidariedade para com o Francisco, acolhi mensagens de gente amiga, que passo a transmitir-vos:

“Muito lindo e esperançoso. A Consciência transmutará e o planeta renascerá. Sou uma otimista… E olhando para as Crianças, ainda mais. Esse “jovem”, entre tantos outros anônimos desse mundo vasto mundo está aí a nos alertar da importância ímpar de se preservar a natureza. Tenhamos ouvidos de ouvir, olhos de ver, vozes de falar e mãos de fazer algo em prol de nós próprios – humanidade.” 

“Seria mera coincidência esta criança se chamar Francisco? Fiquei impressionada com o nível de consciência numa criança ainda tão jovem. E como ele mesmo ressalta o protagonismo dos jovens. Urge salvar nosso planeta! Antes, porém, precisamos de governantes sensatos, conscientes da gravidade da situação e que sejam verdadeiros líderes! Confio pouco nos líderes da ONU e no nível de comprometimento desumano que os consubstancia. Temos de ser nós (individual ou em células) a agir. Não podemos esperar por “outros” que não nos têm representado; que dão por um lado e tiram por outro. Temos que agir; sem Rendição!”

“Grato por esse alento de esperança no porvir! Precisamos de seres humanos solidários que tenham empatia e realmente se importem com seu próximo. Nós, populações indígenas, estamos fazendo nossa parte. Porém, com os massacres que sofremos, se torna uma luta desigual. Precisamos que as pessoas não-indígenas se conscientizem e possam unir forças às nossas batalhas, que a nossa luta é pela vida. A natureza, o planeta e todos os seres, fazemos parte do mesmo ciclo divino da vida, onde o respeito tem que ser primordial. Abraço, professor fraterno meu velho amigo! Se cuide. Apesar de vacinado, estou me recuperando do Covid. A vacina salva vidas!”

Como vedes, se concretizava o dito de Saint-Exupéry:

“A pedra não tem esperança de ser outra coisa que não pedra. Mas ao colaborar, ela congrega-se e torna-se templo”.

 

Por: José Pacheco

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