A semana do dia 24 de fevereiro começou com a notícia da invasão da Ucrânia pela Rússia. Imediatamente, parte do mundo, em particular a Europa, entrou em estado de alerta. Ao atacar a Ucrânia em larga escala, a Rússia pôs em marcha um conflito militar como há muito não se via numa região de grande importância para a economia mundial. Imediatamente, as bolsas asiáticas e os índices futuros do mercado americano acentuaram as quedas. Além das consequências econômicas, os conflitos são especialmente violentos para civis. Mais de 1 milhão de refugiados deixaram a Ucrânia desde o ataque. Como o grande contingente de convocados por Zelensky para a guerra são homens entre 18 e 60 anos, a imensa maioria dos refugiados ucranianos que cruzam as fronteiras do país são mulheres e crianças.
O que pouca gente sabe é que, além da Rússia e Ucrânia, existem outros 28 países em conflito neste momento, onde situações semelhantes vêm também deixando sequelas globais, de modo irreversível.
Todo este preâmbulo serve para avaliarmos qual o papel da escola frente ao cenário mundial e sua contribuição para o estado das coisas. Se a educação deve ser significativa, integradora, diversificada, ativa, socializadora para ser emancipatória, e se, efetivamente, nada disso acontece no contexto escolar, que tipo de pessoa resulta do processo fabril da escola? Com certeza, poucas “peças” com habilidades e competências capazes de lidar com a complexidade desse mundo em transformação tão desafiador.
Em virtude do sistema de comando e controle, a educação humanizadora está longe de chegar a uma escala suficiente para “virar a chave” e nos lançar num novo grau de consciência.
Como dizia Darcy Ribeiro, “nossa escola é uma calamidade”. Os índices de analfabetismo, evasão escolar, doença mental, violência implícita e explicita validam a afirmação. Para ele, o atraso educacional no Brasil é uma sequela do escravismo.
O Código de Hamurábi, escrito por volta de 1772 AC no Irã, já se refere à classe dos escravos. Filha legítima do patriarcado, a escravidão sempre esteve relacionada às guerras e conquistas de territórios. Existem sempre fatores econômicos relacionados à escravidão. A existência da escravidão ou de condições análogas constitui um desafio humanístico até os dias de hoje.
De um jeito sofisticado, o modelo educacional vem perpetuando o vírus da escravidão, subjugando corpos e almas; cerceando a nossa humanidade ao mero exercício de uma existência pífia a serviço de um sistema que provoca guerras e destruição dos sistemas que sustentam a vida.
A utilização da educação como negócio é uma das formas de manutenção da escravidão. Uma vez, conversando com um jovem empresário europeu que quereia abrir uma escola no Brasil, perguntei por que tal interesse. E a resposta foi: “porque o Brasil é barato. Com a pandemia, muitas escolas vão fechar e eu posso comprar qualquer escola a preço de banana”. Mais uma vez, o Brasil vira colônia. Esta é uma entre várias situações que mantém a escola a serviço do sistema capitalista. Ademais, enquanto a educação não assumir o seu papel na construção de uma sociedade que promova a justiça social, a humanidade no seu sentido pleno não se desenvolverá. E, assim, as guerras continuarão. Cabe a todos, não só aos professores, cocriar uma educação que rompa definitivamente com os condicionamentos da escravidão.
É hora de fazer emergir uma educação emancipatória, capaz de fazer com que os sujeitos reflitam por si mesmos; sejam capazes de pensar com maestria, rompendo o padrão de dominação enraizado na cultura da escravidão e subserviência. É hora de a escola quebrar as correntes que a aprisionam para apoiar o desenvolvimento de seres libertos e conscientes do papel da humanidade no mundo. Só assim as guerras deixarão de existir.
Por: Cláudia Passos