Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CCXXVIII)

Crianças em escola chinesa usam “chapéu de um metro”

 

Barcelos (Amazonas), 24 de setembro de 2040

Em meados do mês de setembro, a Unicef admitia que não se deveria esperar controle total da pandemia. Mas acrescentava: “priorizar escolas não é abrir já” (sic)., E a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertava para risco de agravamento da pandemia com a volta às aulas presenciais, pois “tinham o potencial de ser catastrófica, se mal implementada”.

Pelos cálculos feitos, se dez por cento dos eventuais contaminados necessitasssem de cuidados intensivos – o que era considerado uma “abordagem otimista” –, só em Minas Gerais, isso poderia representar um acréscimo de 102 mil doentes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) e quase 4 mil mortes.

Seguindo a recomendação da Fiocruz, o prefeito da cidade de São Paulo anunciou que as escolas não iriam retornar as atividades presenciais em setembro. A gestão considerava “temerário” reabrir as instituições de ensino, porque crianças e adolescentes poderiam disseminar o vírus. Este prefeito era um dos raros que agiam com consciência da gravidade da situação. O inquérito sorológico realizado pela Prefeitura mostrava que, dos seis mil estudantes entre quatro e catorze anos da rede municipal avaliados, 64,4% eram assintomáticos. Isto é, poderiam transmitir o vírus sem saber que estavam contaminados.

Obrigar crianças, jovens e adultos a aglomerar-se dentro de um prédio a que chamavam “escola”, em plena pandemia, era um ato insano. Forçá-los a ficar aglomerados, sem poder tocar-se era outra insanidade. E o que iriam aprender entre quatro paredes de uma sala de aula, que não pudessem aprender fora delas? Nada! Piaget já dizia que sempre que, numa aula, se ensinava alguma coisa a uma criança, proibíamo-la de inventar, de aprender.

Etimologicamente, o termo “aula” tem origem no latim: “pátio”. No Grego: “lugar aberto”. Consideremos a origem no grego “aulé”, pois as primeiras escolas funcionavam em construções anexas a prédios religiosos e pátios de residências, lugares abertos, arejados. Talvez por isso, durante pandemias anteriores à covid-19, muitas escolas funcionassem ao ar livre…

Quando assistia à reabertura de escolas particulares, eu evocava episódios de antanho. Como aquele em que, sendo pacifista nato, fui involuntário personagem de uma guerra inútil, como todas as guerras são. Nas colônias africanas jovens guerrilheiros e jovens portugueses se matavam em nome de nada. Antes de qualquer missão, os comandantes faziam o cálculo das “baixas”. Quando os desgovernantes de 2020 encaravam a possibilidade de contágio, admitiam que o “regresso à escola” seria um “estado de guerra”, que poderia causar “baixas”. Se necessidade houvesse de alguma guerra, ela se faria contra um inimigo bem mais letal do que ao covud-19, para combater os perniciosos efeitos do instrucionismo. A escola da aula provocava muitas “baixas”: matava a curiosidade e a vontade de aprender, comprometia o desenvolvimento emocional e social do ser humano.

De uma mãe preocupada recebi estas palavras:

“Só eu sei como esse ano sem escola está fazendo bem para os meus pequenos, que tão cedo foram para uma instituição, não por necessidade deles e sim por necessidade de uma sociedade que não leva em consideração a infância e transforma as crianças em mini adultos com regras e rotinas que nem gente grande dá conta. Que triste perceber isso. É de doer o coração!”.

Essa e outras mães responsáveis temiam o estrago feito na vida dos seus filhos, no “regresso às aulas”. E tinham razões para se preocupar.

 

 

Por: José Pacheco

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