Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (LIII)

Osasco, 5 de março de 2040

Como vos disse, o sonho de um homem bom havia sido concretizado e, em 2015, a Escola do Projeto Âncora viria a ser considerada por curadorias internacionais como uma das melhores escolas do século XXI. Porém, no início de 2020, as redes sociais faziam eco da sua agonia e morte. Um veemente apelo ecoava nas redes sociais: Reconhecida internacionalmente como escola inovadora, que serviu de inspiração para muitas outras escolas, o Projeto Âncora pede socorro!

Ainda guardo comentários à situação do Âncora “postados” no facebook: Rezo baixinho, mas cheia de convicção, a famosa oração dos alquimistas «Meu Deus, liberta-nos da horrível escuridão da nossa mente, ilumina os nossos sentidos». Já não tenho a certeza que a ciência e a inovação resultantes do espírito investigador do ser humano se manifestem em toda a espécie Homo sapiens…

Um Mário solidário versejava: Zé, pois é, meu irmão / Por falar em educação / Será que temos salvação? / Não diga adeus, ainda não / Incomode um pouco mais / Os acomodados de plantão / E viva com rima: Lauro de Oliveira Lima / E um salve, sem lamento: À Barsanulfo de Sacramento / Mineiro como Sebastião Rocha e Rubem Alves… A Janaina lembrava que escolas não são edifícios, que são pessoas e pessoas são seus valores. O Wilson e o Guga acrescentavam que escolas são pessoas e não as instalações físicas. E o Sérgio concluía: Esse momento do atual Âncora caiu pra mim como uma bigorna cai na cabeça. Mas seguimos esperançosos! Falo no plural, porque temos um núcleo hoje na escola, da qual a Kelly vem transmitindo saberes e indagações vindas do escolas transformadoras. Vira e mexe, a gente toma uma acusação de estarmos querendo ser “moderninhos”, mesmo usando ciência da educação do Brasil e do mundo já produzida há décadas!

Uma Simone “brasileira, inovadora e gratuita”, como se descrevia, assim falava: Essa é a escola Projeto Âncora. Iniciativa linda, que impactava muitas crianças e suas famílias, ensinando o protagonismo juvenil, o senso de comunidade, a resolução de conflitos, uma aprendizagem eficiente e para a vida. Mas para quê? Para termos brasileiros questionadores, críticos, pensantes! E é isto que está acontecendo. Um exemplo que deveria ser seguido, espalhado pelo Brasil todo, está morrendo por falta de verba. E o que podemos fazer? Sinto-me tão impotente, tão só, tão pequena…

A uma distância de vinte anos, ainda é necessário lembrar tempos sombrios, para que nunca mais projetos humanizadores pereçam, para que não se repitam criminosos atos. Uma corrente de apoio se formava, porém, impotente para obstar à destruição de uma escola, que, na verdade, não estava morrendo somente por falta de verba, mas por outros motivos. Em Cotia, o assistencialismo e a ignorância tinham vencido, mas a “alma” do projeto habitava nos educadores de uma bela equipe, a que eu tive a honra de pertencer. E, como vedes, a esperança não morreu. Em 2040, se concretiza o que escrevi para o Marcos, no início do século – Para os filhos dos filhos dos nossos filhos (São Paulo, Papirus) – no livrinho que a Janaína transformou numa bela peça de teatro.

Queridos netos, não penseis que o projeto perecera. O que fora o sonho do amigo Walter, apenas mudava de endereço: o Projeto Âncora migrava para São Paulo, para todo Brasil, para o mundo… Porque, como diria o poeta Aleixo, quem prende a água que corre / é por si próprio enganado / o ribeirinho não morre / vai correr por outro lado.

Por: José Pacheco

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