Por que a escola favorece apenas algumas profissões?

Imagine que você é uma criança de 11 anos.
O que você faz se quer aprender a surfar? Vai para a praia e pede para alguém te ajudar a aprender.
O que você faz se quer aprender a pintar? Compra materiais artísticos e entra em um curso de pintura.
O que você faz se quer aprender a cozinhar? Compra utensílios para cozinha e corre atrás de um curso de gastronomia.
O que você faz se quer ser um atleta de arremesso de dardos? Procura um clube para treinar.
O que você faz se quer ser músico? Compra o instrumento musical e procura um professor particular ou um curso de música.
O que você faz se adora costurar e fazer roupas? Compra máquina de costura, tecidos e faz vários cursos.
Muitas profissões (muitas mesmo) não demandam apenas o conhecimento ensinado nas escolas. A criança que possui uma paixão que não está inserida no sistema acadêmico acaba vendo todo aquele conteúdo ensinado na escola como um peso que atrasa seu desejo de aprender aquilo que gosta.
Um jovem que deseja ser médico, advogado, arquiteto, professor, precisa apenas ir para a escola e aguardar sua entrada na universidade. Mas e aqueles jovens que não desejam seguir a carreira acadêmica? Estes também são obrigados a assistir aulas até os 18 anos. Um jovem músico precisa estudar tanto para a escola quanto praticar seu instrumento musical.
Um universitário que optou pela vida acadêmica não se viu obrigado a aprender a surfar profissionalmente, costurar profissionalmente, cozinhar profissionalmente, durante sua vida escolar. Você já acompanhou a vida de um jovem que sonha em ser jogador de futebol? Já viu como é difícil conciliar os treinos e jogos com os estudos escolares? Você acha que um jogador de futebol precisa se dedicar nos estudos da gramática da língua portuguesa? Precisa aprofundar estudos na botânica ou genética? O que dizer de trigonometria ou álgebra?
Um médico não precisa fazer cursos antes da universidade.
Um engenheiro também não.
Um professor também não.
Um advogado também não.
Enxergamos a música, por exemplo, como um lazer. Existem médicos que são pianistas, mas a música para eles é um hobby. Um músico profissional precisa investir muito tempo e dinheiro para se tornar um bom músico e a escola pouco contribui com esse processo.
O que fazer? Devemos inserir na escola todos os conhecimentos humanos e torná-los obrigatórios para todos os estudantes?
Não… Podemos ser mais racionais. Por que precisamos estudar com tanta profundidade somente algumas áreas do conhecimento? Por que a escola precisa obrigar tanto conteúdo, se tão poucos terminam a escola efetivamente lembrando de tudo?
Por que não há espaço para aprendermos o que gostaríamos? Por que a escola favorece apenas algumas profissões? Por que um pintor precisa aprender a pintar através de um curso? Por que a escola não permite isso dentro dela? Se existem tantas profissões no mundo, porque a escola insiste em focar em tão poucas? Qual é o mal de uma pessoa não saber seno, cosseno e tangente e outra pessoa saber? Por que todos precisam saber tudo?
A escola, em sua etimologia, é um espaço de livre pensar. Na Lei de Diretrizes e Bases está escrito que a educação deve ser feita respeitando a liberdade de aprender. A BNCC já informa o que cada brasileiro precisa aprender, mas porque eu preciso fazer isso na mesma velocidade que outras crianças fazem? Se eu quiser gastar mais tempo aprendendo a cozinhar e ir com mais calma nos estudos acadêmicos, eu posso? Por que eu preciso terminar a escola com 18 anos junto com todos os meus colegas? O que vai acontecer comigo se eu deixar para estudar a estrutura celular das células vegetais e animais com 25 anos?
O que vai acontecer se eu desejar compreender o processo artístico do período gótico e românico com 30 anos? Que mal cairia sobre mim se eu desejasse estudar binômios de Newton com 65 anos?
Em meu bolso há um celular. A qualquer momento eu posso pegar esse celular e digitar absolutamente QUALQUER CONTEÚDO ENSINADO NA ESCOLA e poderei ler com muito mais liberdade e interesse, inclusive ver vídeos e imagens.
Mas quem me ensinou a pesquisar?
Quem me mostrou onde conseguir fontes confiáveis?
Quem clareou para mim o processo de roteirizar meu aprendizado?
Quem sinalizou para mim como conectamos informações para concluirmos idéias que estão no subtexto?
O educador.
Olhem para a nossa sociedade e se perguntem se é isso que os alunos tem aprendido na escola? Eles sabem estudar? Eles sabem aprender? Eles ao menos sabem para que servem os conteúdos que aprendem nas aulas?
Com tanto compartilhamento de fake news e argumentação rasa, quem de nós acredita que a escola tem realmente educado os alunos?
Por isso que precisamos mudar as escolas. Precisamos de uma educação ética para o século XXI.
Por: André Luis Corrêa

Um Comentário

  1. Andrea Araujo 17 de outubro de 2020 em 22:26- Responder

    Muitos adolescentes terminam o ensino médio desmotivados. Como mudar isso? O “novo” ensino médio muda essa lógica?

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