Termina a segunda edição do Aprender em Comunidade

As inscrições para a próxima formação começam no dia 01 de agosto de 2020

“Agora já não estamos mais sós”, afirmou Celestin Freinet sobre as correspondências interescolares trocadas em 1894 com escolas da Bretanha onde dividiam experiências do paradigma da aprendizagem.  Esse foi o mesmo sentimento compartilhado pelos 213 inscritos e 42 tutores ao final da primeira edição do “Aprender em Comunidade”, oferecido pela EcoHabitare em parceria com o Instituto Gaia Escola e a Escola Aberta de São Paulo. Mais de cem anos depois do movimento da Escola Nova, educadores se reuniram virtualmente para formar mais de 51 núcleos de projeto e co-criar  a educação pós-pandemia.

“A formação foi um sucesso!  Conseguimos criar esta rede de educadores e projetos que iniciaram a transição para o paradigma da aprendizagem”, ressalta Cláudia Passos, coordenadora da formação. O grande diferencial deste percurso formativo foi o acompanhamento individualizado dos participantes, divididos em treze núcleos de, até dezenove, participantes, orientados por três tutores cada. Em dois encontros semanais, os grupos criaram vínculos e iniciaram um processo de reconfiguração pessoal e profissional que culminou na criação dos núcleos de projeto. Tudo a partir do “fazer” e do isomorfismo, “a forma como o professor aprende é a forma como ensina”, reforça o professor José Pacheco, coordenador pedagógico da formação.

Os núcleos são as células base para a reconfiguração da prática pedagógica. São a equipe que sustenta e induz as novas construções sociais de aprendizagem. Como a formação foi aberta a pessoas dispostas a sair do instrucionismo e inovar na educação, os núcleos foram bastante heterogêneos. Desde grupos de mães que se mobilizaram contra o excesso de conteúdo despejado pelas escolas em meio a uma pandemia a professores em busca de um modelo capaz de suprir as necessidades de uma nova sociedade pós-coronavírus.  No total, a formação se desdobrou em 51 núcleos em mais de 6 países e 15 estados brasileiros.

 

“Quando sinto que já sei”

Nos dias  22 e 25 de junho e 1º de julho, os participantes apresentaram as evidências de aprendizagem reunidas ao longo da formação no painel “Quando sinto que já sei”. As escolas que já trabalham no paradigma da aprendizagem realizam uma avaliação formativa, contínua e sistemática e as crianças são avaliadas quando sentem que já aprenderam algo novo, daí a inspiração para o nome do encontro.

Como não se emocionar com Vicente, o garoto de oito anos que, a partir da prática de tutoria da mãe Renata, desenvolveu um roteiro de estudos sobre racismo e gravou um vídeo sobre George Floyd. “Os negros são as mesmas pessoas só que com a cor preta, todos são iguais por dentro, só que por fora não”, decretou. Luísa  (codinome adotado pela mãe que não quis a identificar), 10 anos, outra criança disposta a mudar o mundo começando pela sua escola também levou o grupo às lágrimas. Ao responder um questionário com ideias para melhorar a escola, Luísa fez uma lista de sugestões como a adoção de um projeto “antibullying”, diminuição da carga de trabalho das auxiliares e projetos criativos que incentivassem os educandos a querer saber. 

Luisa e Vicente representaram tantas crianças e jovens impactados pela formação “Aprender em Comunidade”.  Ao final de três dias de apresentação, Pacheco se emocionou e concluiu “muita evidência de aprendizagem surgiu, aprendizagens essenciais, a significação da aprendizagem, quando a criança se lança, se interessa e produz conhecimento”.  A palavra “gratidão” dominou o discurso das pessoas que participaram da partilha, “estamos gratos pela oportunidade de crescer assim com tanta humanidade”, sintetizou Ana Fernandes. “Avançamos demais nesse tempo, a formação e a pandemia foram catalisadores do processo”, completou Sérgio Tuck, um dos 42 formadores.

“Quero agradecer a todas as crianças que participaram dessa roda, não somos uma comunidade de 250, somos mais que o dobro. o nosso caminho já começou antes mesmo da gente se encontrar. Daqui pra frente, ninguém larga a mão de ninguém”, finalizou Passos. 

 

Portfólio

Ao longo da formação, os participantes foram convidados a registrar o processo vivido no portfólio de aprendizagem, no Moodle. Lá, deveriam constar evidências de aprendizagem nos 13 pontos definidos como currículo objetivo do percurso: Constituição de núcleo de projeto; matriz axiológica; carta de princípios; projeto reelaborado; regimento Interno coerente com o projeto; prática de avaliação formativa, contínua e sistemática; constituição de tutorias; instalação de dispositivos de reconfiguração das práticas; presença de dispositivos básicos de relação; co-criação de projetos; prática de pesquisa (autoria); criação de círculos de vizinhança; auto planejamento e elaboração de roteiros de estudo.

Todos os portfólios foram analisados pelos tutores durante o mês de julho e os certificados serão emitidos a partir destas avaliações.

 

2ª Edição do Aprender em Comunidade

Enquanto a 1ª edição do Aprender em Comunidade se desdobra em círculos de estudos e grupos ativos no Telegram, a EcoHabitare já começa os preparativos para a segunda edição, com início previsto para o dia 24 de agosto. 

“Hoje há três tendências para a pós-pandemia: voltar à sala de aula, passar para um sistema de ensinagem só virtual, segunda via é professores no olho da rua, terceira via: inovar, o virtual não é incompatível com o presente, ambos humanizando o processo de aprender. Preparai-vos para a inovação: fraternidades de círculos, comunidades locais, redes de comunidades – círculos de vizinhança autônomos e solidários”, finaliza Pacheco.

“Não existe maior força do que um coletivo focado num objetivo. Foi isso que criamos no Aprender em Comunidade. Juntos seremos co-criadores de uma nova realidade, um mundo melhor”, diz Cláudia Passos.

Sejamos a terceira opção! Faça parte desta rede de transformação, não perca esta oportunidade. As inscrições são limitadas e se iniciam no dia 01 de agosto. 

Por: Alice Watson

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