Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCXXI)

Brasília, 15 de agosto de 2041

Queridos netos,

Ando remexendo velhos baús, reencontrando papéis, macróbios compact disk, pen drive empoeiradas, restaurando boas e más memórias. A cartinha de hoje é reflexo dessa viagem ao passado. 

Nas minhas deambulações por Brasília, ganhei inimigos, fiz amigos. Dos primeiros não falarei pois já nem recordo aqueles que apenas me mereceram compaixão. Entre os amigos, por agora, invocarei o Isaac. Poderia tentar descrever a sua pessoa, mas as palavras não conseguem traduzir a admiração que senti (e ainda sinto) por aquele extraordinário ser humano. 

Muitos foram os dias em que, na sua casa, reuniu boa gente, incansáveis educadores em busca de solução para o “pesadelo chamado Brasil”. E, no distante agosto de 2021, isto escreveu:

“Vivemos tempos difíceis no Brasil, diria, dramáticos. A pandemia da Covid-19 nos atingiu como um grande Tsunami. Milhares de vidas foram ceifadas. A fome e o desemprego atingiram as classes mais desamparadas e pobres. A violência, especialmente contra as mulheres, é uma cena repetitiva no nosso cotidiano. O racismo e a intolerância prosperam.

Atritos, alguns fabricados, abalam a harmonia dos pilares da democracia. O embate entre os Poderes aponta para uma desagregação no país. A educação e a saúde em frangalhos. A desinformação constante é um grande aliado da ignorância (…) A educação pública de qualidade para todos e todas é um pré-requisito para termos um Brasil melhor. Lembremos aqui o pensamento de Anísio Teixeira: “Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara para as democracias. Essa máquina é a da escola pública”. Só teremos o Brasil de nossos sonhos se a educação básica ter como pilares, a ética, a solidariedade, a liberdade, a autonomia, o pensamento crítico, a competência e a responsabilidade social.

Vamos acordar para construir o Brasil do futuro. E nessa nova e brilhante alvorada é pertinente lembrar as palavras de Juscelino Kubitschek, gravadas e imortalizadas na Praça dos Três Poderes: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã o do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.

Em agosto do distante 2021, quisera ir até ao Rio e a Carnaíba, ajudar o André, a Hilda, a Cléo, a Bianca, a Ingrid, a Rosinha e outros maravilhosos educadores a criar condições de “construir o Brasil do futuro” anelado pelo amigo Isaac. Mas, a covid-19 continuava a fustigar o desgovernado povo brasileiro. Optei por uma nova viagem a Portugal. Solidariamente me fiz presente em lugares onde ressurgia o espírito inventivo de egrégios avós e onde a covid-19 recuava. No Brasil, a Jaqueline e a Rosemari secundavam a oportuna intervenção do Isaac: 

“Estamos indignados com a fala do ministro: “a universidade é para poucos”. Se for consolidada, esta reforma sepultará a possibilidade de jovens de classes populares seguirem do ensino médio para o ensino superior, sobretudo das universidades públicas. O quadro é muito grave, é de menos educação. Dêem uma olhada na reforma, que a smed está apresentando. É de chorar no cantinho, não há anti depressivo que dê conta (…) Nossa indignação nos provoca úlcera. Não descobrimos o caminho ou as estratégias, para pararmos este trem descarrilhado. Os gritos retornam como eco de nossas próprias vozes”.

A indignação era o princípio de uma mudança, que aconteceria no ano seguinte.

 

Por: José Pacheco

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