Caso encerrado

O senhor Torgal voltou a invectivar-me. Quando recebi a notícia da publicação de novo artigo, eu estava na Universidade de Brasília, junto da mangueira onde Agostinho da Silva se abrigava do calor tropical. Talvez não seja por acaso que há acasos. No espólio desse mestre exilado, tenho encontrado explicação para a insistência do articulista e para o atraso educacional português.

Escrevo estas linhas, dentro de um avião, rumo a Portugal, ao encontro de educadores éticos. Nesse intervalo, recebi esta mensagem: Amigo José, deveria estar muito entusiasmado com esta oportunidade, mas, infelizmente, estou rodeado de pessoas sem sonho, preconceituosas, cheias da sua verdade e fechadas em si mesmas. Isto é gente que não o merece!!! Peço-lhe que venha com a sua paz e com dose extra de paciência!

Algum tempo atrás, esse professor português tomou consciência de que, dando aula, negava a muitos jovens o direito à educação. E tomou uma decisão ética: a de mudar a sua prática. Mas, há quem confesse dificuldades em imaginar a viabilidade de uma escola sem divisão em turmas, nem aulas. Essa confissão não me surpreende. Os 28 anos de sedimentação da cultura profissional do articulista impedem-no de imaginar alternativas, como, por exemplo, a dos colégios jesuítas da Catalunha, que aboliram as inúteis aulas.

Ele crê – e uma crença não se discute – que as escolas são prédios, dentro dos quais professores do século XX tentam ensinar alunos do século XXI, recorrendo a práticas pedagógicas do século XIX. Dado que o senhor Torgal é especialista em História, talvez tenha estudado História da Educação e saiba que essa Escola foi engendrada nas fábricas da Inglaterra, nos conventos e casernas da França, e na Prússia militar. Obsoleta, desde há mais de um século, essa escola vem sendo responsável por um verdadeiro genocídio educacional, com a conivência do obsceno silêncio de cientistas da educação não-praticantes.

O articulista diz ser minha uma visão idílica da educação. Não o é! É uma práxis, isto é, prática com teoria… que o articulista, decerto, desconhece. Aqui lhe deixo algumas sugestões de leitura de autores fundamentais, entre muitos outros, para que possa adentrar os complexos meandros das ciências da educação: Lauro e Vygotsky (da Psicologia da Educação); Agostinho e Rubem (Filosofia da Educação); Demo e Nóvoa (História da Educação); Florestan e Giroux (Sociologia da Educação); Freire e Morin (Epistemologia); Castells e Papert (Tecnologias de Informação e Comunicação); Anísio e Montessori (Pedagogia); o Darcy da Política educativa; o Stenhouse da Teoria de currículo; o Lévy da Cibernética; o Damásio das Neurociências; a Nise da Psiquiatria; o Janine da Ética, o Piaget da Psicologia Genética; o Rogers da Psicanálise; a Praxeologia de um Freinet…

Porém, não basta conhecer as propostas desses mestres, para se perceber a dimensão da nossa ignorância. Médicos ensinam “neuroeducação” a professores; economistas introduzem o e-learning… em sala de aula. Filósofos discorrem sobre computação ubíqua… em sala de aula. Falastrões recuperam pedagogias fósseis, como a do “aluno no centro do processo de aprendizagem”. E os professores as reproduzem em situações de ensino, em sala de aula, centradas no… professor.

Proponho o debate fundamentado, impossível de fazer num artigo de jornal. Por isso, renovo o convite para o debate fraterno. Se declinar o convite, peço-lhe que não me faça perder mais tempo. Caso encerrado.

Por: José Pacheco

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